Uma Reflexão Sobre as Escolhas no Amor
Relacionamentos podem ser fontes de felicidade, mas também podem trazer frustração e dor. Muitas vezes, ouvimos ou até dizemos: “Por que sempre escolho relacionamentos complicados?”. É como se um padrão estivesse traçado, levando sempre às mesmas dificuldades e angústias.
Mas, seria essa escolha realmente consciente? Ou haveria algo operando em um nível mais profundo, fora do nosso alcance imediato? A psicanálise nos convida a olhar além das aparências e escutar o que está por trás dessas repetições.
O Papel do Inconsciente nas Escolhas Amorosas
Na psicanálise, entende-se que nossas escolhas não são tão racionais quanto parecem. Freud já apontava que nossos desejos são frequentemente moldados por vivências da infância, especialmente nas primeiras relações significativas, como com os pais ou cuidadores.
Quando escolhemos um parceiro, podemos estar repetindo inconscientemente padrões vividos nessas relações. Por exemplo, alguém que cresceu buscando aprovação de uma figura distante pode, sem perceber, se envolver repetidamente com pessoas emocionalmente indisponíveis.
Lacan, por sua vez, fala do Grande Outro, a instância simbólica que rege a linguagem e nossas relações com o mundo. Nossas escolhas amorosas passam por esse Outro, que inscreve desejos, medos e ideais. Assim, o parceiro pode ser investido de significantes que vão muito além do que ele é em sua realidade objetiva.
Para saber mais sobre o conceito de inconsciente e sua influência, visite o artigo Understanding the Unconscious Mind no site do Freud Museum.
Repetição e Tentativa de Reparação
A repetição de relacionamentos complicados pode ser vista como uma tentativa inconsciente de resolver algo não elaborado. A pessoa busca, nesses parceiros, fechar uma “ferida” do passado. Contudo, como isso acontece sem plena consciência, o resultado muitas vezes é frustrante.
Essa dinâmica pode se manifestar em forma de expectativas irreais ou idealizações. É como se o sujeito esperasse que o outro, de alguma forma, preenchesse um vazio ou compensasse faltas vividas em outros momentos da vida.
Leia também: Por que Meus Relacionamentos Sempre Terminam Mal? para entender como padrões inconscientes impactam suas escolhas.
Escutando o Inconsciente: A Perspectiva Psicanalítica
Na psicanálise, não há soluções mágicas para interromper esses ciclos. O que há é uma proposta de escuta. Ao falar, o sujeito começa a perceber repetições, significantes que retornam, e como suas escolhas estão atravessadas por algo maior do que ele imaginava.
Essa escuta permite ao sujeito realizar uma retificação subjetiva, reposicionando-se diante de seus desejos. Em vez de buscar “o parceiro perfeito” ou “corrigir o outro”, ele pode compreender o que essas escolhas dizem sobre si mesmo.
Transformando as Relações: Uma Jornada Possível
Escolher relacionamentos diferentes não é uma questão de simplesmente “decidir”. É necessário escutar o que as relações complicadas estão tentando dizer. O que falta foi inscrito como desejo? O que se busca no outro que, na verdade, é uma tentativa de resolver algo consigo mesmo?
A psicanálise oferece um espaço para essa elaboração. Não para evitar erros futuros, mas para que o sujeito possa se abrir a novas formas de viver o amor, menos marcadas pela repetição e mais pela singularidade de cada encontro.
Pronto para Escutar o Que Suas Relações Têm a Dizer?